
O recipiente de vidro com o coração de dom Pedro 1º, é mantido na igreja de Nossa Senhora da Lapa, no Porto, em Portugal, a pedido do libertador do Brasil em testamento. Divulgação: Venerável Irmandade Ordem da Lapa (Foto: )
Brasília – O
coração do primeiro imperador e libertador do Brasil, Pedro de Alcântara
Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José
Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim — ou Dom Pedro 1º —, pode ser uma das atrações
das comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. O Itamaraty estuda
formalizar um pedido de empréstimo do coração do “Rei Soldado”, atualmente
guardado em uma igreja do Porto, no Norte de Portugal, a pedido do próprio
monarca, em seu testamento.
A possibilidade foi revelada pelo embaixador
brasileiro George Prata, um dos coordenadores do programa de comemorações do
bicentenário, à Agência Lusa. Ele disse que, por causa da importância atribuída
à figura do imperador por ambos os países, foram iniciadas “conversações
preliminares para explorar a possibilidade da transladação temporária do
coração de dom Pedro para o Brasil”.
O embaixador ressalvou que ainda não houve pedido
formal, mas que falou sobre o assunto com representantes da Câmara Municipal do
Porto e da igreja onde está o órgão.
“Isso ainda está num estado inicial e há
considerações a serem tomadas. Talvez a mais importante delas seja o estado de
conservação do coração e saber se ele poderia ser transladado temporariamente
para o Brasil”, completou o diplomata.
Segundo ele, os portugueses teriam acolhido bem a
ideia. No entanto, a proposta só será formalizada se a viabilidade técnica do
empréstimo e transporte do órgão ao Brasil for confirmada.
O Itamaraty disse apenas que “iniciou conversações
com autoridades portuguesas para examinar a possibilidade de traslado
temporário”, no contexto das celebrações do bicentenário da Independência, e
confirmou que contatou a Câmara do Porto e a Irmandade de Nossa Senhora da
Lapa.
O coração do imperador está guardado, sob a
proteção de cinco chaves e com várias camadas de resguardo, na igreja da Lapa,
e sua fragilidade faz com que as autoridades limitem bastante o manuseio. A
última exibição pública do coração, que está conservado em formol e pode ser
visto através de um vidro, aconteceu há sete anos, para a gravação de um
documentário. O coração é uma relíquia histórica para as duas nações irmãs.
As precauções atuais não estiveram sempre em vigor.
Durante muito tempo, era comum que o órgão fosse exibido a autoridades
brasileiras em visita a Portugal.

Corpo foi enterrado no Museu do Ipiranga
Embora o corpo do primeiro imperador brasileiro
esteja no parque da Independência, no complexo do Museu do Ipiranga, em São
Paulo, o coração permaneceu no Porto a pedido do próprio imperador, que
expressou o desejo em seu testamento. O gesto foi um reconhecimento ao papel
que a cidade teve na luta que dom Pedro travou com os exércitos de seu irmão
mais novo, dom Miguel, pelo trono de Portugal.
Passo a passo da independência do Brasil
O famoso Grito do Ipiranga não resume toda a
movimentação em torno da Independência do Brasil. Embora tenha sido resultado
de uma articulação protagonizada pela elite brasileira, é possível elencar uma
série de fatores que propiciaram o clima para a emancipação do Brasil em
relação a Portugal, processo que se inicia em 1822 e vai terminar apenas em
1825.
Desde a vinda da família real portuguesa para o
Brasil, ganhava corpo, de acordo com as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa
Starling, um processo de “abrasileiramento” do então regente dom João, futuro
rei dom João 6º, pai de dom Pedro 1º.
A condição de governar o império ultramarino
português a partir de uma colônia fez com que o Brasil fosse alçado, em 1815, à
categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Esse novo status, especialmente econômico, não era
uniforme em todo o território. Em diversas regiões do Brasil, a insatisfação
com a monarquia crescia frente ao aumento da cobrança de impostos e às más
condições de vida.
No final do século 18, circunstâncias semelhantes
motivaram pelo menos dois movimentos separatistas: as conjurações mineira
(1789) e baiana (1798), essa última também abolicionista.
Nesse contexto, em março de 1817, eclode a
Revolução de Pernambuco. Diferentemente dos outros movimentos, a revolta teve
algum sucesso, mas por um curto período — instituiu, por quase três meses, uma
república independente na capitania. Mesmo tendo sido derrotado em maio, o
movimento ilustra como a fagulha da liberdade já rondava o território.
Do outro lado do Atlântico, portugueses viam com
desconfiança essa mudança de centralidade do governo para a porção americana do
reino. Esse foi um dos motivos que resultaram na Revolução Liberal do Porto.
O movimento de 1820 propunha o estabelecimento de
Cortes eleitas para a regência do país ibérico, numa espécie de monarquia
constitucional, e o imediato regresso da família real a Portugal.
Em 1821, dom João 6º e sua corte regressaram ao
país de origem, deixando o filho Pedro no comando do território brasileiro.
No intuito de reverter os atos políticos de dom
João 6º e rebaixar a importância política do Brasil, as Cortes portuguesas
decidiram, em setembro de 1821, que o príncipe regente deveria retornar à
metrópole. Nos primeiros meses de 1822, Pedro amadurece a ideia de permanecer
no Brasil, contrariando as Cortes.
No primeiro semestre de 1822, uma série de
acontecimentos acentuou o distanciamento entre Portugal e Brasil. Em 3 de junho
de 1822, no rumo da construção de uma administração para o território, foi
convocada uma Assembleia Constituinte, no Rio de Janeiro. Sua sessão inaugural,
entretanto, só aconteceu no ano seguinte. Nos gabinetes e nas ruas, a
Independência parecia irreversível.
Foi então que, em 28 de agosto de 1822, chegou uma
embarcação de Lisboa com mensagens que, além de ordenar o retorno imediato do
regente, acusavam de traição os ministros ao redor de Pedro. Na ausência dele,
a princesa Leopoldina, ao lado de José Bonifácio, reuniu o conselho para
discutir os próximos passos, que culminariam na independência brasileira. Ela
enviou uma carta a Pedro alertando-o sobre a urgência da situação.
A mensagem chegou a Pedro quando o regente estava a
caminho de São Paulo, próximo ao rio Ipiranga. Naquele 7 de setembro, aquele
que viria a se tornar o primeiro imperador do Brasil se irritou com as notícias
da metrópole, tirou a fita com as cores portuguesas que carregava no chapéu e
bradou: “Independência ou morte! Estamos separados de Portugal”.
O Grito do Ipiranga foi apenas o primeiro passo
para a constituição de um Estado. Portugal reconheceria a independência do
Brasil apenas em 1825, com a formalização do Tratado de Paz, Amizade e Aliança.
Nesse entremeio, o Brasil seria palco de intensa guerra, principalmente nas
províncias onde ainda existia grande contingente de soldados portugueses, como
a Bahia e o Piauí.
Diferentemente do Rio, a Bahia foi cenário de diversas
batalhas. Durante 16 meses, entre fevereiro de 1822 e julho de 1823, tropas
brasileiras e portuguesas se enfrentaram pelo controle do território. Um
episódio marcante foi o assassinato da freira Joana Angélica, morta na entrada
do convento da Lapa quando tentava impedir que soldados portugueses invadissem
o local.
Na Bahia, celebra-se a independência em 2 de julho
— nessa data, em 1823, os brasileiros ocuparam Salvador após a fuga dos
portugueses.
A Independência consagrou a vitória de uma das muitas
propostas de Brasil que estavam em disputa à época. Diferentemente dos vizinhos
latino-americanos, prevaleceu o projeto monárquico frente às ideias
republicanas e constitucionais. Restava então criar uma nação e uma identidade
brasileira que desse conta das dimensões de um Império continental.

Retrato de D. Pedro 1º, atribuído a Simplicio
Rodriges de Sá, c. 1828-1830. Museu Imperial
Abdicação
Após abdicar do trono brasileiro em abril de 1831,
menos de uma década após a Independência, dom Pedro 1º partiu de volta para a
Europa com o objetivo de reconquistar a coroa portuguesa para sua filha, Maria
da Glória, reconhecida como herdeira legítima pelas monarquias europeias.As
tropas absolutistas, de dom Miguel — irmão mais novo, em confronto com as
liberais, de Pedro, travaram uma sangrenta guerra civil em Portugal. Mesmo
sitiada por mais de um ano, a cidade do Porto resistiu aos ataques e foi
essencial para a vitória do exército liderado por Pedro 1º que recuperou o
trono português.Debilitado pelos ferimentos da guerra, ele morreu de
tuberculose poucos meses após o fim do conflito, em setembro de 1834, aos 35
anos. Primeiro imperador do Brasil, o governante é conhecido pelos brasileiros
como Pedro 1º, enquanto em Portugal é chamado de dom Pedro 4º.
Dom Pedro 1º, nasceu em 12 de outubro de 1798, no
Palácio Real de Queluz, em Portugal e morreu em 24 de setembro de 1834 (35
anos), no mesmo palácio.
Seu corpo foi sepultado em Monumento à
Independência do Brasil, em São Paulo, no Brasil.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.
Com informações Ze Dudu