
Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados conversa com os jornalistas (Foto: )
Brasília – Desde o
ano passado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defende
a adoção de um novo sistema de governo no país. Para tanto, na ÚLTIMA semana,
Lira instituiu um grupo de trabalho (GT) para debater temas relacionados ao
semipresidencialismo — sistema de governo no qual o presidente da República
compartilha o poder com um primeiro-ministro, eleito pelo Congresso Nacional.
O GT se reunirá pela primeira vez nesta
quarta-feira (23), com a missão de, segundo o seu coordenador, deputado Samuel
Moreira (PSDB-SP), fazer um amplo debate: “Deixar a sociedade debater,
conversar. Nós não temos pressa e nem vamos atropelar ninguém com relação a
isso. Respeitar o pleito eleitoral deste ano. Nós vamos tirar qualquer proposta
que possa contaminar as eleições ou o mandato do próximo presidente da
República, que será no sistema presidencialista.”
O grupo terá 120 dias para concluir os trabalhos,
podendo o prazo ser prorrogado por igual período. Além de Moreira, outros nove
deputados participarão do colegiado. Lira criou ainda um Conselho Consultivo,
coordenado pelo ministro aposentado Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal
(STF). Além dele, integram esse conselho o ex-presidente da República Michel
Temer e a ministra aposentada do Supremo Ellen Gracie.
Samuel Moreira afirma que o semipresidencialismo
pode ser melhor que o atual sistema, porque o primeiro-ministro escolhido pelo
presidente eleito terá de formar rapidamente uma coalizão de apoio no
Congresso, para ter o nome ratificado. Para Moreira, os parlamentares terão de
compartilhar mais responsabilidades com os rumos do governo.
“É importante que proporcionalmente a essa força
seja entregue também uma responsabilidade. Então, às vezes, o presidente está
ali numa luta para manter a inflação baixa, para controlar o emprego; e o
deputado está lutando para gastar mais recursos públicos, inclusive com a sua
atribuição, que é levar emendas [para seus Estados]. Então, você combina essas
duas coisas e essa responsabilidade do deputado que apoia o primeiro-ministro aumenta”,
detalha.
Apesar de o Grupo de Trabalho não estar vinculado a
nenhuma proposta específica, o deputado Samuel Moreira faz referência à ideia
de que tanto o presidente quanto o Parlamento possam pedir a saída do
primeiro-ministro, e a possibilidade de dissolução do próprio corpo de
parlamentares em determinadas situações.
Mas Samuel Moreira acredita que esses mecanismos
são melhores que os processos de impeachment: “Porque, se o
primeiro-ministro está indo mal, o governo está indo mal, tem uma crise; você
não precisa instaurar um impeachment. Você simplesmente troca o
primeiro-ministro em 48 horas. Imagina ficar fazendo impeachment para
presidente que demora um ano.”


Parlamentarismo disfarçado
O deputado Henrique Fontana (PT-RS), vice-líder da
Minoria, detonou a iniciativa. Num pronunciamento em Plenário disse ser contra
a adoção do semipresidencialismo, por acreditar que as crises poderão ser mais
frequentes, entre outros motivos.
“Esse tal de semipresidencialismo, na realidade, é
um parlamentarismo disfarçado, em que, em vez de 55 milhões ou 60 milhões de
brasileiros escolherem um presidente da República pelo voto direto, a maior
parte do poder do voto do cidadão não estaria mais na mão do presidente — o que
o senhor e a senhora escolheram para governar o País. Ao contrário, haveria uma
negociação complexa, intraparlamentar, em que 258 votos de deputados e
deputadas teriam o real poder daquele que seria o tal primeiro-ministro”,
argumentou.
Samuel Moreira afirma que, além de ter o poder de
indicar o primeiro-ministro, o presidente terá de cuidar das relações
exteriores do País, da defesa, e da apresentação de propostas legislativas e
vetos.
O assunto é delicado e polêmico. Vários deputados
dizem que uma mudança dessa profundidade tem que ser alterada através de um
plebiscito ou de uma consulta popular, nas urnas, e não através de um arranjo
entre deputados e senadores.
Composição
O grupo de trabalho será composto por parlamentares
e será assessorado por um conselho consultivo, formado por juristas e ex-ministros.
A composição parlamentar prevê a participação dos seguintes deputados:
Samuel Moreira (PSDB-SP), que coordenará os
trabalhos;
Marcel van Hattem (Novo-RS);
Margarete Coelho (PP-PI);
Enrico Misasi (PV-SP);
Silvio Costa Filho (Republicanos-PE);
Luiza Canziani (PTB-PR);
Alice Portugal (PCdoB-BA);
Luiz Philipe de Orleans e Bragança (União-SP);
Felipe Rigoni (União-ES);
Gastão Vieira (PROS-MA).
Já o conselho consultivo, destinado a assessorar o
colegiado, será composto por:
Michel Temer, ex-presidente da República e professor de Direito Constitucional;
Nelson Jobim, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), que
coordenará o conselho;
Ellen Gracie, ministra aposentada do STF;
Mônica Caggiano, doutora pela USP;
Manoel Gonçalves Ferreira Filho, doutor e professor emérito da USP;
Nina Beatriz Stocco Ranieri, doutora pela USP;
Rodrigo de Bittencourt Mudrovitsch, doutor pela USP;
Maria Hermínia Tavares de Almeida, doutora pela USP;
Jorge Octávio Lavocat Galvão, procurador do DF e doutor pela USP;
Elival da Silva Ramos, doutor pela USP.
Conforme o ato publicado, o colegiado poderá
realizar audiências públicas e reuniões com órgãos e entidades da sociedade
civil organizada, além de ouvir profissionais, juristas e autoridades sobre o
tema.
Semipresidencialismo
O semipresidencialismo é um meio-termo entre o
parlamentarismo e o presidencialismo. Nesse sistema de governo, a figura do
presidente da República fica mantida como nos moldes atuais — escolhido em
eleições diretas —, mas introduz no cenário político o primeiro-ministro, que é
indicado pelo presidente eleito.
No presidencialismo — que é o sistema de governo em
vigor no Brasil — o presidente da República acumula as funões de Chefe de
Estado e Chefe de Governo.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog
do Zé Dudu em
Brasília.
Com informações Ze Dudu