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Brasília – O presidente
Jair Bolsonaro (sem partido) tem até o final de março para se filiar a um
partido político para poder disputar a reeleição em 2022.
O Aliança pelo Brasil não saiu do papel, os controladores do Patriota não abrem
mão do controle da executiva nacional e nem dos diretórios regionais, restando
apenas três legendas que continuam na mesa de negociação.
A dificuldade para o acerto reside na resistência
das condições impostas pelo presidente para se filiar a uma nova legenda: ter o
controle da executiva nacional e dos diretórios regionais.
“O tempo é nosso inimigo”. A frase foi dita pelo
Bolsonaro em reunião com seu núcleo político na última semana. A preocupação
expõe o fato do mandatário ainda não ter encontrado um partido para chamar de
seu e disputar a reeleição no ano que vem. Sem garantia de que poderá se filiar
e assumir o controle do Patriota, Bolsonaro autorizou interlocutores a abrirem
negociações com o Democracia Cristã (DC), PMN e PSC.
Na semana passada, interlocutores do presidente
procuraram José Maria Eymael, que preside o DC.
“Fomos procurados por interlocutores do presidente.
Acredito que podemos ter uma conversa presencial com o próprio presidente nos
próximos dias. Bolsonaro e DC podem contribuir muito para a democracia cristã
no país”, disse Eymael, sem entrar em detalhes.
No PMN, integrantes da sigla também confirmam que
foram procurados. Entretanto, as mesmas fontes adiantam que há resistência em
entregar o controle da executiva nacional e de diretórios estaduais a nomes
indicados pelo presidente. Bolsonaro tem pressa para se filiar a alguma legenda
pois avalia que a demora atrapalha a negociação de alianças para 2022.
Apesar do convite de siglas maiores, como PP e PTB,
e de recente sondagem do PSC, a avaliação do núcleo do presidente é que o
futuro partidário deverá ser em uma legenda pequena. Dessa forma, Bolsonaro
teria mais facilidade de indicar nomes para a executiva nacional e, assim,
controlar o partido e garantir que terá espaço para disputar a reeleição. O
controle de diretórios estaduais como do Rio e São Paulo também são
estratégicos para os planos políticos do presidente.
DC e PMN sequer elegeram deputados federais e
estariam mais dispostos a receber os parlamentares, do PSL e de outras
legendas, que acompanhariam Bolsonaro. Aliados do presidente acreditam que até
60 congressistas podem acompanhar o movimento.
Há duas semanas, Bolsonaro chegou a dar como certa
a sua filiação ao Patriota. Presidente da legenda, Adilson Barroso participou
de um encontro com Bolsonaro no Palácio do Planalto. Ocorre que Barroso
enfrenta resistência no próprio partido.
Barroso não controla mais a legenda. Em 2018, o
Patriota, para cumprir a cláusula de barreira, anunciou a fusão com o PRP,
controlado por Ovasco Resende, que passou a ter 50% da sigla. Barroso ficou com
30%, e outros 20% ficaram nas mãos de parlamentares, atualmente divididos entre
aceitar ou não Bolsonaro. Ovasco, por sua vez, tem se mostrado contrário à ida
do presidente para o partido.
No PSC, o deputado André Ferreira (PE), que foi o
líder do partido na Câmara em 2020, diz que os dez integrantes da bancada
querem Bolsonaro de volta. No núcleo do presidente, a avaliação é que a
filiação dependeria do afastamento definitivo de Pastor Everaldo da presidência
do partido. Mesmo preso, ele não deu mostras de que pretende abdicar do comando
da legenda.
O fiasco do Aliança pelo Brasil
Segundo o núcleo político que orbita no entorno do
presidente, o cenário ideal seria a criação de uma nova legenda, mas os planos
de tirar o Aliança pelo Brasil do papel falharam.
Para tirar um partido do papel, o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) exige 492 mil assinaturas recolhidas em todo o País. Apoiadores
do presidente tentaram recolher as assinaturas necessárias para as eleições
municipais, sem sucesso. A mobilização foi feita em praças e em igrejas
evangélicas. Na conversa com apoiadores, Bolsonaro admitiu a dificuldade para
cumprir os critérios.
Meses antes das eleições municipais de 2020, o
presidente se queixou: “Muita burocracia, é muito trabalho, certificação de
fichas, o tempo está meio exíguo”. Não é por mim, eu não estou fazendo campanha
para 2022, mas o pessoal quer disputar e queria estar em um partido que tivesse
simpatia minha, disse o presidente”
Em 2019, Bolsonaro saiu do PSL após um racha no
partido. Parlamentares da legenda se dividiram em uma disputa por espaços
internos entre o presidente da República e o presidente nacional da legenda,
Luciano Bivar. No ano passado, Bolsonaro passou a oferecer cargos e verbas
federais a partidos do Centrão em troca de apoio no Congresso.
Em março do ano passado, Bolsonaro sinalizou
filiação a um novo partido, justamente porque não conseguir tirar o Aliança
pelo Brasil do papel.
Sem partido, Bolsonaro foi assediado pelo Centrão
para uma filiação. Os convites vieram de integrantes do Progressistas, PL, PTB,
Patriota e Republicanos. Os filhos Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro migraram
para o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal. O presidente da
República não disse em qual partido pretende se filiar agora.
No final de janeiro desse ano, Bolsonaro recebeu o
senador Jorginho Mello (PL-SC), vice-líder do governo no Congresso, no Palácio
do Planalto para uma conversa sobre filiação. A bancada da legenda no Congresso
preparou uma carta oficializando o convite. Atualmente, o PL tem 43 deputados
federais e três senadores. Mas, ao que se sabe, a negociação emperrou devido as
exigências de Bolsonaro em controlar o partido a que se filiará.
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.