
Joao Carlos Rodrigues 2 de setembro de 2020 (Foto: )
O ex-governador do Pará, Simão Jatene
(PSDB), anunciou na noite de terça-feira, 1º, que vai ingressar com ação
judicial reivindicando a suspensão a sessão da Assembleia Legislativa do Pará
(Alepa), que reprovou sua prestação de contas referente ao exercício de 2018,
último ano do terceiro governo dele à frente do Estado. A sessão ocorreu na
tarde de terça. Com a rejeição da prestação de contas, Jatene fica inelegível
por oito anos.
Em entrevistas a veículos de
Comunicação da capital, o ex-governador, cujas contas foram analisadas
pelo Tribunal
de Contas do Estado do Pará (TCE) e a
corte recomendou que fossem aprovadas pelo Legislativo Estadual, declarou que
foi alvo de uma trama política, com o objetivo de evitar com que ele participe
das eleições de 2022.
Na avaliação dele, tanto a
presidência da Alepa, quanto os deputados e o governador têm de ter limite,
pois tramaram para lhe cassar politicamente de qualquer jeito. “Não se pode
transformar as contas públicas em elemento de barganha. Isso coloca em jogo a
própria democracia”, criticou, observando que “havia deputados votando
envergonhados”.
De fato, o resultado do julgamento
das contas de Simão Jatene pela Alepa contraria redondamente o que diz o
relator do TCE, Odilon Inácio Teixeira, ao recomendar ao Poder Legislativo a
aprovação, baseado em minucioso e alentado relatório da Comissão e Análise de
Contas, que, em 341 páginas, esmiúça as contas do Governo do Pará no ano
de 2018.

Jatene: “Havia deputados votando envergonhados”
Baseado nos números apresentados,
afirma o relator: “Verifica-se, no que diz respeito à gestão fiscal, que a
despesa líquida com pessoal do Poder Executivo observou o limite legal definido
na LFR [Lei da Responsabilidade Fiscal], sem ultrapassar os limites prudencial
e de alerta; que foram respeitados os limites definidos nas Resoluções do
Senado Federal (…) para a Dívida Consolidada Líquida (DCL), para a
concessão de garantias, para as operações de crédito realizadas e para a
despesa executada com serviço da dívida pública (amortização, juros e
encargos)”.
No mesmo trecho do documento, o
relator afirma ainda que a disponibilidade de caixa líquida se mostrou
suficiente para atender aos restos a pagar não processados inscritos no
exercício de 2018, “cumprindo assim a regra do artigo 42 da LRF, atinente à
assunção de despesas nos dois últimos quadrimestres do mandato do titular do
Poder Executivo; e que foi observada a denominada ‘regra de ouro’ definida na Constituição
da República (…), considerando-se que o valor das operações de crédito não
excedeu o montante das despesas de capital”.
Mais adiante o conselheiro relator
destaca que, da análise do relatório técnico sobre as demonstrações contábeis,
“constata-se que as contas governamentais estão equilibradas e que a situação
patrimonial do estado, quanto às disponibilidades financeiras, mantém-se
positiva, além do que a capacidade de gestão financeira das dívidas estaduais
se encontra em condição favorável”.
Entretanto, na Alepa, a Comissão de
Fiscalização Orçamentária, cujo relator é o deputado Wanderlan Quaresma (MDB),
deu parecer contrário à votação do TCE. Diante do que o ex-governador
questiona: “Minha defesa foi técnica, apresentei dados que tanto o TCE quanto o
Tesouro Nacional já haviam se manifestado sobre as finanças do Estado do Pará
até 2018. Então o fato de o Tesouro Nacional demostrar que Pará tinha saúde
financeira em 2019 e o TCE aprovar a prestação de contas de 2018 não significa
nada?”.
Ainda segundo Jatene, o relatório da
Comissão Orçamentária da Alepa é repleto de imperfeições. “Se a leitura dele é
difícil, imagine analisar os dados de uma prestação de contas. Hoje o Poder
Legislativo demonstrou absoluta subserviência ao Executivo”, atacou o ex-governador.
Dos 40 deputados presentes à sessão,
seis votaram contra a reprovação das contas de Jatene: Thiago Araújo
(Cidadania), Heloísa Guimarães (DEM), Eliel Martins (DEM), Toni Cunha (PTB),
Delegado Caveira (PP) e Orlando Lobato (PMN).
Em seu perfil a rede social Facebook,
o marabaense Toni Cunha declarou: ” Apesar de o voto ser secreto, fiz questão
de externar o voto, por dever de transparência. Fui eleito de modo
independente, e assim vou continuar. Não pedi voto para o candidato do então
governador e também não pedi voto para o atual governador. Votarei com o povo e
com minha consciência, custe o que custar”.
Acerca do fato dos deputados Ana Cunha, Cilene
Couto, Luth Rebelo e Victor Dias, todos do PSDB, partido de Jatene, terem
votado contra ele, o ex-governador disse que a traição não ficou surpreso: “Não
me surpreendi nem um pouco com a bancada do PSDB. No geral o quadro é triste na
política paraense”.