Desde 2019, Capital do Minério
não via sua principal receita em R$ 50 milhões. No acumulado do 1º trimestre,
Cfem de 2025 está cerca de 9% abaixo do faturamento de 2024. Queda acende
alerta para corte em despesas, principalmente das assessorias que Aurélio
Goiano criou para contemplar aliados
Aquela que foi, por mais de
década, a principal “fonte de renda” da Capital do Minério agoniza. A
Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), popularmente chamada de
royalty de mineração pelos ordenadores de despesa públicos, virá neste mês de
março pior que o esperado previsto no mês passado pelo Blog do Zé Dudu, que
calculou algo em torno de R$ 55 milhões — o que já era ruim — a partir de dados
da balança comercial consolidada (relembre
aqui).
Nesta segunda-feira (3), o Blog
teve acesso aos dados fechados da Agência Nacional de Mineração (ANM) e
recalculou em primeira mão o valor real da Cfem deste mês para Parauapebas: R$
50,89 milhões. É o pior março em sete anos, levando-se em conta que a menor
parcela de royalties recebida anteriormente foi em 2019, no valor de R$ 43,43
milhões.
As razões para a queda da
cota-parte da compensação de Parauapebas este mês são variadas. Vão desde a
produção física de minério de ferro em ritmo mais lento na Serra Norte de
Carajás, devido às chuvas intensas que caem sobre a região, até o preço da commodity
mais fraco no mercado internacional diante de incertezas geopolíticas e
econômicas em nível global, sobretudo relacionadas à guerra comercial entre
Estados Unidos e China, queda de braço mais maléfica para o país asiático e
principal mercado consumidor do produto extraído de Parauapebas.
‘Pouco’ com Deus é muito
Há quem diga que R$ 50 milhões,
de uma “lapada” só, em royalties, já é muito para um município do porte de
Parauapebas, que tem somente 300 mil habitantes. E não deixa de ser verdade,
afinal, o que a prefeitura vai receber este mês em apenas um dia é equivalente
ao que 2.000 prefeituras brasileiras ajuntam durante o ano inteiro.
Por outro lado, a diminuição da
Cfem traz problemas adicionais às contas públicas da Capital do Minério, uma
vez que a cidade está acostumada com cifras grandiosas. Em março de 2021,
quando o município viveu o auge da arrecadação, a Cfem recolhida foi de R$
95,43 milhões. Um ano depois, em março de 2022, o valor foi de R$ 133,38
milhões. Essas cotas dificilmente se repetirão daqui para frente e impõem um
dilema à gestão do prefeito Aurélio Goiano: como suportar as despesas, que
seguem em ritmo crescente, com a receita em queda?
A maior das despesas, a folha de
pagamento, foi turbinada em janeiro com a criação de mais de 600 cargos
comissionados para serem distribuídos entre aliados políticos do prefeito. A
medida virou alvo de questionamento judicial, mas o prefeito insiste em peitar
o juiz Lauro Fontes Júnior, que determinou exoneração imediata de uma parte dos
assessores recém-nomeados, conforme mostrou reportagem recente do Blog do Zé
Dudu (veja
aqui).
Enquanto a folha aumenta, a
“renda” da prefeitura despenca. No ano passado, de janeiro a março, a
Prefeitura de Parauapebas recebeu R$ 220,2 milhões em Cfem, ao passo que no
mesmo período deste ano o recolhimento totalizará R$ 200,9 milhões, assim que a
cota de março entrar na conta. No período de um ano, a inflação disparou
aproximadamente 5%, porém a receita da compensação financeira desabou quase 9%.
A Capital do Minério está caminhando para entrar numa espécie de “cheque
especial”.
Queda também em Canaã
A Prefeitura de Canaã dos Carajás
também vai receber Cfem menor este mês, embora maior que a cota de Parauapebas:
R$ 58,9 milhões. A Terra Prometida, no entanto, não tem do que se reclamar
quando o assunto é dinheiro em caixa até porque, com três vezes menos habitantes
que Parauapebas e recursos financeiros vultosos, não sobra tempo para
lamentação.
No acumulado de três meses deste
ano, Canaã dos Carajás terá embolsado R$ 202,7 milhões, assumindo a ponta do
faturamento de royalties de mineração no Brasil. No mesmo período de 2024, o
município recolheu R$ 195,87 milhões.
Vale ressaltar que o recurso da
Cfem de março ainda não foi liberado e deve ser creditado na conta das
prefeituras por volta do próximo dia 10. Até lá, prefeituras como Marabá (R$
12,64 milhões), Paragominas (R$ 4,07 milhões), Itaituba (R$ 2,51 milhões),
Curionópolis (R$ 2,3 milhões), Juruti (R$ 2,04 milhões) e Terra Santa (R$ 1,08
milhão) também poderão fazer planos com o recurso que vão embolsar.
Ao todo, 54 municípios vão ratear
R$ 137,86 milhões em royalties decorrentes da produção mineral movimentada em
janeiro. A cota de Cfem para municípios afetados por mineração realizada na
vizinhança ainda não foi liberada e, por isso, Marabá tende a receber muito
mais — no mês passado, por exemplo, a Prefeitura de Marabá embolsou R$ 2,77
milhões pelo fato de o município ser diretamente afetado, além dos R$ 27,2
milhões por produção.
RANKING DE RECEBIMENTO DA CFEM
EM MARÇO DE 2025
1º Canaã dos Carajás — R$
58.899.770,08
2º Parauapebas — R$ 50.892.026,81
3º Marabá — R$ 12.644.261,06
4º Paragominas — R$ 4.067.196,67
5º Itaituba — R$ 2.509.388,52
6º Curionópolis — R$ 2.304.136,92
7º Juruti — R$ 2.044.348,18
8º Terra Santa — R$ 1.080.371,71
9º Ipixuna do Pará — R$
915.738,09
10º Tucumã — R$ 778.837,53
11º Oriximiná — R$ 737.517,76
12º Altamira — R$ 397.670,89