Por Daniella Almeida – Repórter da
Agência Brasil - Brasília
Até esta terça-feira (5), o ciclone extratropical formado
no domingo (3) no Sul do país matou 21 pessoas no Rio Grande do Sul e mais uma
em Santa Catarina.
No Rio Grande do Sul, 15 dos 21 óbitos confirmados
ocorreram em uma casa em Muçum, no centro do estado, e seis na região mais ao
norte gaúcho, nos municípios de Mato Castelhano, Passo Fundo, Ibiraiaras e
Estrela. Uma morte ocorreu sobre o Rio Taquari, durante tentativa de resgate de
uma pessoa, por helicóptero, quando o cabo se rompeu e a vítima e o policial
socorrista caíram. A mulher não resistiu aos ferimentos e morreu e o policial
está em estado grave.
No fim desta tarde, o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite, confirmou que este é o maior número de mortes em situações
como essa, no estado.
"Eu recebo a informação de 15 corpos
localizados no município de Muçum, o que causa imensa dor e faz elevar o número
de mortes de seis para 21. O que está configurando o maior número de
mortes em evento climático no estado do Rio Grande do Sul."
No oeste de Santa Catarina, um homem morreu após o carro
em que ele estava ser atingido pela queda de uma árvore derrubada durante uma
ventania de 110 km/h em Jupiá, na segunda-feira (4).
Danos
Os dois estados registram também inúmeros estragos
provocados pelas tempestades. Em Santa Catarina, a Defesa Civil do estado
confirmou a ocorrência de um tornado no município de Santa Cecília, na
comunidade de Anta Morta.
De acordo com o governo gaúcho, o Rio Taquari
inundou as cidades de Muçum, Roca Sales, Lajeado, Estrela, Arroio do Meio,
Encantado e Colinas.
No momento, o Rio Taquari permanece acima da cota
de inundação nas estações Muçum, Encantado e Estrela. Já o Rio Caí ultrapassou
esse nível nas cidades de São Sebastião do Caí e Montenegro. No Rio Grande do
Sul, a Defesa Civil alerta para inundação do Rio Caí, que continua em elevação
a partir do município de São Sebastião do Caí. Há risco de deslizamentos de
terra, pois o solo continua úmido. Em quase todos esses municípios, famílias
estão sendo retiradas de suas casas de forma preventiva.
O estado registrou também queda de granizo, ventos
fortes e tempestades, com os chamados transtornos associados (como enxurradas e
inundações). Os estragos ocorreram, principalmente, na região dos Vales, no
Norte e na Serra Gaúcha. Em alguns municípios, há pontes submersas ou
interditadas. As enxurradas provocaram também a ruptura da ponte que liga
Farroupilha a Nova Roma, com a queda de uma das cabeceiras.
No balanço mais recente, a Defesa Civil gaúcha
registrou 62 municípios afetados pelas consequências do ciclone extratropical
dos últimos dias e estimou em 25.734 o número de pessoas afetadas em todo o
estado. No momento, o número de desalojados caiu de 2.649 para 215. A Defesa
Civil contabilizou também 309 casas destelhadas e três destruídas.
Solidariedade
No programa semanal Conversa com o Presidente, Lula manifestou solidariedade à população que
sofre com os efeitos das fortes chuvas. O presidente adiantou que o ministro do
Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e um representante da Secretaria
Nacional de Proteção e Defesa Civil viajarão ao Rio Grande do Sul nesta
quarta-feira (6) para ajudar no que for necessário. “Onde tiver um problema, o
governo federal estará lá para ajudar as pessoas a se salvar desses problemas.
Portanto, nossa solidariedade ao povo gaúcho. Peço a Deus que diminua a chuva
porque as pessoas precisam ter paz, tranquilidade e sossego para continuar
vivendo bem, trabalhando e curtindo a vida como é de direito de todo mundo”,
disse Lula.
Em sua conta na rede X, antigo Twitter, o
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, confirmou que este é o quarto
evento climático severo que atinge o estado desde junho deste ano. Eduardo
Leite lamentou cada uma das mortes e afirmou que a prioridade, neste momento, é
evitar outras perdas humanas.
“Os esforços estão concentrados em salvar vidas, no resgate e na proteção das
pessoas. Desde as 7h da manhã, assim que houve condições de voo, os
helicópteros do governo do Estado se mobilizaram para fazer os resgates nas
comunidades mais afetadas, especialmente na região do Vale do Taquari”,
destacou o governador. Leite acrescentou que, assim que for possível, se
deslocará até as áreas atingidas a fim de acompanhar os trabalhos e garantir
todo o suporte necessário às famílias e aos municípios nas ações de
reconstrução.
Em entrevista à Agência Brasil, o
prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, disse que o município tem diversos pontos
sem internet, sem luz, nem serviços de telefonia e que moradores estão ilhados.
Caumo descreve a situação como delicada e uma das piores vividas pelos
moradores, após o Rio Taquari subir 17 metros, somados aos 13 metros de
profundidade habituais.

No município gaúcho de Lajeado,
enchente do Rio Taquari alaga ruas e quase encobre casas - Foto:
Arquivo pessoal
Segundo o prefeito, a enchente enfrentada é maior
que a de 2020. “Nunca tínhamos vivido uma enchente com esse volume de
água e com a quantidade de desabrigados. São em torno de mil pessoas nesta
condição, cerca de 250 famílias utilizando cinco ginásios do município." O
prefeito esclarece, porém, que o grande problema são pessoas ilhadas, por terem
resistido à recomendação de sair de suas casas, enquanto a água continuava
subindo. “Essas pessoas entendiam que a água não chegaria naquele ponto de
atenção, mas isso foi superado e, agora, não se consegue acesso a elas, porque
nós estamos com muitos pontos da cidade sem luz, sem sinal de internet. Não
conseguem nem mesmo carregar o telefone para comunicar”, lamenta Marcelo Caumo,
que aguarda o Rio Taquari parar de subir.
Pela rede social, na madrugada de hoje, a prefeitura de Roca Sales,
a partir do monitoramento que fazia da elevação do rio Taquari desde o dia
anterior, pediu aos moradores subissem nos telhados das casas para tentar se
proteger da cheia, enquanto esperavam pelo socorro. “A toda a população! Neste
momento desesperado, bombeiros e Defesa Civil não estão dando conta de auxiliar
a todos [os] que necessitam. Pedimos que quem consiga suba nos telhados e se
agasalhe. O auxílio profissional do estado só virá nas primeiras horas da
manhã. Quem tiver barcos que possam auxiliar quem necessita, pedimos
encarecidamente que ajude quem precisa neste momento.”
Mobilização
A Polícia Rodoviária Federal e o Exército cederam
aeronaves e embarcações para as ações de salvamento. O atendimento será
reforçado na região do Vale do Taquari, uma das áreas mais afetadas. Os
helicópteros estão resgatando pessoas avistadas sobre árvores e telhados, além
de pacientes ilhados – como ocorreu na cidade de Roca Sales, onde dez pessoas foram
resgatadas e levadas para o hospital de Estrela.
A Marinha do Brasil informou que enviou uma
aeronave modelo Esquilo, duas viaturas, duas embarcações e 10 militares para
apoiar os atingidos pelo temporal em Lajeado. Outra equipe viajou à região do
Vale do Taquari, para prestar o apoio necessário à população, em conjunto com
as autoridades locais.
O governo do Rio Grande do Sul afirma que está
também mobilizado no suporte aos municípios afetados pelos temporais com
helicópteros e embarcações. A Defesa Civil está monitorando continuamente a
situação das bacias hidrográficas do estado. Além do atendimento à população, o
governo trabalha para desobstruir acessos bloqueados.
Previsão do tempo
Segundo a Defesa Civil do estado, a previsão é que
as chuvas, mesmo após darem uma trégua nesta terça, retornem na quarta-feira
(6) com temporais na região de fronteira entre a Argentina e a Campanha
gaúcha.
Na quinta-feira (7), as chuvas continuarão na
metade sul do estado gaúcho, com condições para transtornos devido aos elevados
volumes de chuva. A tendência é de que, na sexta, as instabilidades avancem
sobre as demais regiões do estado com chuvas pontualmente fortes.
A Marinha alerta que amanhã as áreas marítimas das
regiões Sul e Sudeste devem registrar pancadas de chuva, rajadas de vento de
até 65 km/h na faixa litorânea entre Florianópolis e São Sebastião (SP), até o
fim da noite de hoje, e mar agitado, por conta deste ciclone extratropical. No
litoral entre o município gaúcho de Tramandaí e Florianópolis, haverá condições
favoráveis à ocorrência de ressaca, com ondas de até 2,5 metros nas praias, até
o fim da madrugada da quarta-feira.
Os ciclones extratropicais são fenômenos
meteorológicos caracterizados por um centro de baixa pressão atmosférica.
Associado a esse fenômeno, há a presença de uma frente fria. Quanto mais baixa
a pressão do ar em seu interior, mais fortes são os ventos causados pelos
ciclones.
Edição: Nádia Franco
