
Montadora está em negociação da antiga fábrica da Ford que foi fechada no polo industrial de Camaçari, na Bahia (Foto: )
Alexandre
Baldy, o novo chairman da BYD no Brasil, que acaba de assumir
o cargo da maior montadora chinesa de carros, ônibus, caminhões elétricos as
próprias baterias, anunciou que o Pará pode receber uma das três fábricas que
serão construídas no país.
De acordo
com Baldy, existe possibilidade de construir uma unidade para fabricar chassi
de ônibus elétricos no Pará, estado que sediará a Conferência das Nações Unidas
sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) em 2025, sem dar maiores detalhes sobre o
plano, valores envolvidos e estágio das negociações.
O objetivo
da BYD é começar as obras de três fábricas no polo industrial de Camaçari, na
Bahia, em outubro, quando o fundador da montadora chinesa, Wang Chuanfu,
considerado o “Elon Musk” chinês, deve vir ao Brasil.
Com o
impasse sobre a fábrica da Ford perto do fim, após o governo da Bahia anunciar
sua compra, a montadora chinesa de carros elétricos BYD vai começar a pisar
mais fundo no acelerador para colocar em marcha seu plano de avançar no mercado
brasileiro.

Portfólio
dos carros e ônibus elétricos fabricados pela BYD
Faltam
ainda detalhes sobre como a BYD deve assumir a antiga fábrica da Ford, que
deixou de fabricar veículos no Brasil, em 2021 — o valor a ser pago é um deles.
Mas, de acordo com o novo chairman da BYD, a compra da área é a única
possibilidade admitida pela montadora chinesa. O governo baiano não se
manifestou sobre as declarações do novo executivo-chefe da BYD. Baldy adiantou
que “os chineses não querem concessão não onerosa, de longo prazo, preferem a
compra”.

Ex-secretário
de Transportes Metropolitanos do governo de João Dória em São Paulo, o
controverso Alexandre Baldy, é o novo chairman da BYD no Brasil
Alexandre
Baldy é ex-deputado federal por Goiás e que já foi ministro da Cidades no
governo de Michel Temer (MDB) e secretário dos Transporte Metropolitanos de São
Paulo na gestão de João Dória (PSDB).
Investimento
O
investimento previsto é de R$ 3 bilhões para fabricar carros e caminhões
elétricos, além de chassi para ônibus na Bahia a partir do segundo trimestre de
2024. Quando estiver plenamente em operação deve gerar 5 mil empregos.
Das três
unidades industriais previstas, uma será dedicada à produção de 150 mil
unidades ao ano de carros elétricos e híbridos. A segunda fábrica vai produzir
chassis para ônibus e caminhões elétricos. A terceira será voltada ao processamento
de lítio e ferro fosfato, que atenderá ao mercado externo. Os minérios são
matérias-primas para fabricação de baterias de veículos elétricos.
Atualmente,
a BYD, além da importação de veículos, já tem uma operação industrial em
Campinas (SP), onde faz montagem de ônibus elétricos, e em Manaus (AM), para
montagem de baterias.
Outro plano
para alavancar a marca chinesa de carros elétricos no Brasil é praticamente
multiplicar por quatro a sua rede de concessionárias, passando de 26 para 100
até o fim deste ano, estabelecendo presença em boa parte do território
brasileiro.
O avanço no
Brasil da BYD (iniciais em inglês de “Build Your Dreams” ou “Construa Seus
Sonhos”), que fabrica 5 milhões de carros elétricos globalmente, mais do que a
própria Tesla de Elon Musk, coincide com a desembarque de diversas montadoras
chinesas no País.
Nos últimos
dois anos, três fabricantes chinesas de carros elétricos — GWM, BYD e Higer Bus
— anunciaram investimentos que somam mais de R$ 20 bilhões, visando a produzir
veículos elétricos. Um quarto grupo, o XCMG, avalia iniciar operações até 2025.
Mercado em rápido
crescimento no Brasil
Pouco a
pouco, montadoras de carros e utilitários elétricos vêm ganhando espaço no
promissor mercado brasileiro. Nos sete primeiros meses de 2023, o mercado de
veículos leves eletrificados no Brasil emplacou 39.701 unidades, um aumento de
68,5% em relação ao mesmo período em 2022, de acordo com dados da Fenabrave, a
associação que representa as concessionárias.
Para se ter
uma ideia do posicionamento dos chineses nesse segmento, dos dez modelos de EVs
mais emplacados em julho, seis são de montadoras chinesas, como GWM, CAOA Chery
e BYD.
Atualmente,
a BYD importa quatro veículos inteiramente elétricos (Na, Han, Yuan Plus e
Dolphin) e um híbrido plug-in (Song Plus DM-i). O Dolphin e o Song Plus serão
produzidos na futura fábrica de Camaçari a partir de 2025.
O Dolphin,
por sinal, já virou líder do mercado de EVs, com mais de 3 mil unidades
importadas em apenas dois meses. As vendas nos dez primeiros dias de agosto,
por exemplo, foram 112% maiores que o mesmo período de julho.
Ao ser
lançado no Brasil por R$ 150 mil, o modelo obrigou a concorrência a se mexer. O
JAC e-JS1 e o Caoa Chery iCar, ambos de montadoras chinesas, além do Renault
Kwid elétrico, reduziram o valor de venda de seus modelos para competir com a
BYD.
“O sucesso
de vendas do Dolphin nos levou a revisar nosso planejamento. Hoje, ele já
representa 40% do mercado de veículos elétricos”, diz Baldy.

O sedã Seal
será lançado no Brasil até o fim de agosto
Mas a BYD
não aposta apenas em carros “populares” no segmento elétrico. O sedã Seal, novo
lançamento no Brasil previsto para o fim deste mês. por exemplo, tem potência
de 531 cv e deverá chegar ao mercado por cerca de R$ 350 mil – metade do preço
de um Porsche Taycan 4S, com potência semelhante.
Essa
estratégia agressiva ajudou a consolidar a BYD como a maior produtora mundial
de veículos elétricos, com 5 milhões de unidades, ultrapassando a Tesla.
Negociação
Não era segredo para ninguém que a BYD iria se instalar na Bahia. Desde o
fim do ano passado, quando anunciou planos de se instalar no Brasil, a
montadora vinha negociando com a Ford a compra da fábrica desativada em
Camaçari.
Mas a
disputa comercial EUA/China se tornou um grande obstáculo para a BYD. A Ford,
uma centenária empresa americana, não queria vender suas instalações em
Camaçari, onde fabricou o Ecosport e o Ka.
“A solução
para o impasse com a Ford partiu de uma sugestão do ministro Fernando Haddad”,
revela Baldy. A alternativa foi vender a fábrica para o governo da Bahia,
mediante pagamento de “valores de mercado” à montadora americana, cujo montante
ainda não foi definido.
Agora, o
governo baiano provavelmente deverá efetivar uma operação de venda do complexo
à BYD, com valores equivalentes aos negociados com a Ford.
A compra da
fábrica da Ford não foi — e não será — o único obstáculo a ser enfrentado pela
BYD. As montadoras instaladas no Sudeste se uniram para evitar a prorrogação de
incentivos fiscais federais para montadoras instaladas no Nordeste e
Centro-Oeste, que dispõem isenção de Imposto de Renda e de IPI, além dos
benefícios dos governos estaduais.
A BYD, por
exemplo, tem redução de 95% do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias
e Serviços) cobrado do governo baiano. Em julho, o governador da Bahia,
Jerônimo Rodrigues (PT), anunciou ainda a isenção de IPVA (Imposto sobre a
Propriedade de Veículos Automotores) para os proprietários de carros elétricos
com valor até R$ 300 mil que sejam produzidos na Bahia e circulem no estado.
“Não tem
indústria que tenha condição competitiva de se instalar no Norte, Nordeste ou
Centro-Oeste sem estímulos fiscais”, diz Baldy, lembrando que cerca de 60% da
indústria de autopeças está localizada no Sudeste e no Sul, maiores centros
consumidores.
Ele admite
que a reforma tributária pode pôr fim aos incentivos federais. “Mas, se vierem,
faremos mais investimentos”, diz Baldy.
Reportagem: Val-André Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em Brasília
Tags: #Economia #Indústria #Veículo Elétrico #BYD
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