
Presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, abre reunião composta por membros do Grupo de Trabalho criado no banco para o projeto pacote BNDES COP 30, ao lado do governador do Pará, Helder Barbalho (Foto: )
Brasília – Um pacote de crédito e
investimentos que pode superar R$ 5 bilhões foi anunciado nesta sexta-feira
(2), durante reunião entre o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, e o governador Helder Barbalho
(MDB), na sede da instituição. O recurso busca viabilizar e preparar Belém,
capital do Pará, para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas (COP 30), que acontecerá em novembro de 2025.
Mercadante
determinou a criação de um Grupo de Trabalho (GT) com integrantes da
instituição que interagiram com a equipe técnica do governo paraense para a
formatação e desenho do plano, que terá caráter multisetorial e cujos
investimentos vêm de linhas do próprio BNDES e outros fundos.
A
confirmação do Brasil como sede do mais importante evento ambiental do mundo
foi anunciada pelo presidente Luiz Inácio lula da Silva no último dia 26 de
maio. A formalização do convite ocorrerá durante a COP 28, realizada entre os
dias 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes.
Chamou
atenção a ausência do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (Psol), na reunião.
A Reportagem do Blog do Zé Dudu não conseguiu confirmar se Ed 50 (como agora é
conhecido) foi ou não convidado.
Após
considerações do presidente do BNDES, uma entrevista coletiva abriu perguntas
aos jornalistas presentes.
Desenho e formatação
O BNDES
desenhou o plano financeiro da COP 30, cujos custos do total de projetos
atingiram a cifra de R$ 5 bilhões ou US$ 1.008.735,65 de dólares, na conversão
da cotação de sexta. “Haverá uma linha especial exclusiva para a COP 30,”
adiantou Mercadante.
Ele disse
ainda que os R$ 5 bilhões serão em recursos reembolsáveis e não reembolsáveis.
Parte do valor será concedida dentro da linha de crédito de R$ 30 bilhões que o
banco voltou a conceder a estados e municípios, suspensa em 2018. “Não menos
que R$ 3 bilhões seriam financiamento, porque o estado tem capacidade de
endividamento, a prefeitura também, e nós vamos acionar essa linha,” informou.
Para outros
projetos na área de energia renovável, como a renovação da frota de 1,3 mil
ônibus de Belém, os recursos virão de outra linha de crédito, que será concedida
às empresas, ou consórcio, que vão substituir combustíveis fósseis por gás ou
ônibus elétrico.
A frota de
ônibus que opera o transporte da capital paraense é uma das mais antigas e
obsoletas do país – o tempo de uso dos veículos têm cerca de 12 a 14 anos, em
média, de existência. “Se nós não migrarmos para ônibus elétrico, vamos perder
essa presença na região,” disse o presidente do BNDES.
O Brasil é
o segundo país que mais anda de ônibus no planeta, destacou, lembrando que
México e Chile já fizeram a migração para ônibus elétrico em suas metrópoles.
“Ônibus é manufatura, gera muito emprego. Nós queremos impulsionar a eletro
mobilidade no transporte urbano, nos ônibus,” reforçou Mercadante.

O
governador Helder Barbalho e o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante em
reunião no edifício-sede do BNDES, no Rio de Janeiro
Linhas do financiamento
Uma parte
menor do total dos R$ 5 bilhões virá do Fundo Amazônia, que será enquadrado na
rubrica de não reembolsáveis em projetos de redução do desmatamento. “Por
exemplo, a linha de bioeconomia: essa é uma área de interesse estratégico. Você
não sustentará o fim do desmatamento se não desenvolver uma economia
alternativa que gere valor agregado à floresta em pé, à floresta viva,” afirmou
Aloizio Mercadante.
O BNDES
criou uma linha de financiamento voltada à inovação. Na modalidade fundo
reembolsável, disponibiliza taxa de juros de 2% ao ano, pode financiar projetos
industriais de base tecnológica no ambiente de inovação que é o parque
tecnológico de bioeconomia do Pará. Essa é a principal aposta do governador
paraense para incrementar a economia do estado, fortemente dependente da
exploração de commodities metálicas e florestais, seguido do agronegócio.
O Pará tem
uma das menores taxas de industrialização da América Latina, sendo zero a
produção de produtos com média ou alta tecnologia embarcada. Pior, a indústria
de transformação e naval paraense, que um dia já foi pujante, está praticamente
falida.
Durante sua
explanação, o presidente do BNDES disse que o Fundo Clima (reembolsável) também
poderá ser acionado, do mesmo modo, “porque caberia muito bem nessa conversão
da cidade e do estado em ser carbono neutro”. “O Pará, é, atualmente, o estado
brasileiro que mais reduz emissões de carbono na atmosfera,” salientou,
elogiando os esforços do governador paraense.
Ele
destacou ainda que o projeto COP 30 vai ter tramitação prioritária dentro do
banco e será montada uma força tarefa dos diversos setores da instituição para
acelerar o calendário. A preocupação da instituição é correr contra o tempo,
mas, fazer as coisas como devem ser feitas, daí o cuidado de formatar e
desenhar um plano com começo, meio e fim.
PAC Tecnológico
Mercadante
disse que o BNDES está analisando também outros projetos que ficarão sob o
guarda-chuva de um PAC Tecnológico, ressuscitando uma marca registrada dos
governos petistas – o Programa de Aceleração do Crescimento, desta feita, na
área de tecnologia.
Sem entrar
em detalhes, descreveu superficialmente: “Estamos criando um PAC Tecnológico – um
ambiente de inovação para empresas de base tecnológica em bioeconomia, que usam
os produtos da floresta, gerar valor agregado aos produtos da floresta para
poder usar os recursos que foram aprovados no Orçamento. Acessar a TR (Taxa
Referencial) que foi aprovada no Congresso Nacional para recursos em inovação
no valor de R$ 5 bi nesse ano, que é uma taxa de juros muito favorecida de 2%,
e o Fundo Clima 3%”.
Resumindo,
a cesta da fonte de recursos para financiar a COP 30 em Belém, será composta
por:
- Não reembolsável – Fundo Amazônia;
- Taxas favorecidas: Fundo Clima (3%) e Linha Inovação Tecnológica
com TR a 2% e
- Linhas de crédito do próprio BNDES, do governo do estado do Pará e
da prefeitura de Belém.
Tais
linhas, de acordo com o presidente da instituição, “estarão direcionadas para
todo o apoio ao governo do Pará, nesse gigantesco esforço para que o Brasil
mostre que mudou para melhor, mudou para enfrentar a crise climática, mudou
para uma economia sustentável”.
“Parabéns
ao governador, que trouxe uma apresentação muito detalhada dos projetos com os
seus secretários e já estamos numa fase adiantada,“ concluiu, antes de passar a
palavra ao governador do Pará.

O
governador do Estado do Pará, Helder Barbalho, detalha a estratégia para a COP
30, em Belém
A estratégia do Pará
Por sua
vez, o governador Helder Barbalho celebrou a parceria na construção da vocação
do incentivo aos estudos da biodiversidade, que viabilizem a cultura econômica
e a bioeconomia para o estado, que tem como uma das estratégias, a consolidação
do parque estadual de bioeconomia. Outras ações pretendem que a floresta viva
seja um ativo econômico e, a partir daí, seja viabilizado o pagamento por
serviços ambientais e estimulada a conservação florestal como atividade
econômica.
O Congresso
Nacional está prestes a votar vários projetos que regulamentam o pagamento por
serviços ambientais e outros protocolos previstos em COPs anteriores, ativando
de uma vez por todas e plenamente, o mercado de créditos de carbono, que não
consegue evoluir do status incipiente no Brasil.
O volume de
transações desses créditos de carbono já movimenta cifras bilionárias. Só em
2020, foram 229 bilhões de euros negociados nesse mercado, cinco vezes mais que
o volume negociado em 2017, segundo a Refinitiv Financial Solutions, uma das
maiores fornecedoras mundiais de dados e infraestrutura de mercados
financeiros.
Para
preparar Belém para sediar a COP 30 em 2025, o governo do Pará apresentou ao
BNDES um conjunto de desafios que inclui desde obras estruturantes, voltadas à
mobilidade urbana, à infraestrutura urbana, até a agenda do saneamento, a
partir da consolidação da agenda de concessão da distribuição de água e esgoto,
cuja modelagem está sendo feita pelo próprio banco de desenvolvimento. Barbalho
já havia citado essa interface em sua participação na Lide Brazil Conference, em Londres, em 20 de abril passado.
Nesse
escopo do projeto de saneamento que o BNDES está a um passo de concluir, como o
Blog do Zé Dudu havia informado em primeira mão, a Companhia de Saneamento do
Pará (Cosanpa) – estatal estadual de água e esgoto –, será privatizada e
lançado um leilão para ofertar o serviço à iniciativa privada.
A Cosanpa,
como suas congêneres, salvo rara exceção, é uma das empresas mais ineficientes
do mundo, por onde se queira olhar seus relatórios operacionais e de gestão e
um cabide de emprego incompatível com a administração pública moderna.
Dentro do
conjunto de obras de infraestrutura listadas por Helder Barbalho, está prevista
a construção de novos corredores para melhorar o ambiente urbano da região
metropolitana. “Estamos muito motivados a transformar Belém no primeiro case de
transporte coletivo com uso de matriz energética renovável, seja transporte
coletivo elétrico ou a gás, reduzindo o uso de transporte com combustíveis
fósseis,” disse.
Não só
isso, a esperança do plano apresentado pelos técnicos do estado é que Belém
consiga se desvencilhar da má fama de um dos piores trânsitos do mundo,
efetivamente “disputando com Nova Delhi, metrópole indiana, em que se locomover
de carro, moto ou bicicleta é tarefa apenas encarada pelos muito corajosos”,
como sempre citava, Juvêncio de Arruda, um jornalista que se notabilizou em seu
blog, escrevendo a crônica política e de costumes dos paraenses.
Barbalho
afirmou também que o governo do estado quer fomentar ações que envolvam
serviços e hospitalidade para a capital, que envolvem desde a implantação de
novos leitos de hotelaria. Belém dispõe atualmente de 25 mil leitos na rede
hoteleira. O Pará apresentou ainda ao BNDES projeto de ser um estado que usa
100% energia renovável no consumo público. “A ideia é que possamos, juntos,
viabilizar a implantação de fazendas de energia renovável, fotovoltaica, para
substituição do consumo atual que se utiliza de outros mecanismos de energia
não renovável”.
Aloizio
Mercadante informou que estará em Belém em julho, para a assinatura de contrato
para restauração do antigo Convento dos Mercedários, que é um patrimônio
histórico significativo de Belém. Na ocasião, o presidente do BNDES anunciará
os primeiros projetos prioritários dentro do pacote BNDES COP 30.
Por Val-André Mutran – de Brasília
