
Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília (Foto: )
Milhares de mulheres de mais de 170
etnias indígenas continuam acampadas próximo à Esplanada dos Ministérios, em
Brasília. Representantes de comunidades de todo o país, elas participam
da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Indígenas, evento que
começou dia 7 e vai até 11 de setembro.
De acordo com a organização da
marcha, mais de 5 mil mulheres estão reunidas em Brasília, somando-se aos
remanescentes do movimento Luta Pela Vida, acampamento indígena que, nas últimas
semanas, chegou a reunir cerca de seis mil pessoas na capital federal para
acompanhar o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do futuro das
demarcações das terras indígenas.

Além de tentarem influenciar os
ministros do STF a refutar o Marco Temporal - tese segundo a qual só teriam
direito às terras pertencentes a seus ancestrais as comunidades que as estavam
ocupando ou já as disputavam na Justiça no dia 5 de outubro de 1988, data da
promulgação da Constituição Federal -, os manifestantes reivindicam a
demarcação de novas reservas indígenas e se opõem às propostas políticas de
liberar a mineração em seus territórios e de flexibilizar as normas de
licenciamento ambiental em todo o país.
“Enfrentamos o desmonte das políticas
indigenista e ambiental”, informa o manifesto divulgado pela Articulação
Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). “Não suportamos
mais tantas atrocidades e ataques”, acrescenta a articulação em sua página na
internet.
Hoje (9), o dia começou com grupos
entoando rezas e cantos e realizando ritos tradicionais enquanto a programação
era definida. Após uma breve reunião, a organização decidiu adiar a caminhada
até a Praça dos Três Poderes, prevista para ocorrer esta manhã.
“As forças de segurança do Distrito
Federal recomendaram que, por precaução, as mulheres ficassem aqui mesmo, no
acampamento. Decidimos não fazer hoje a marcha até a Praça dos Três Poderes por
entender que ainda há muita gente armada na cidade, mas até o fim do evento
decidiremos um outro momento”, disse Danielle Guajajara à Agência
Brasil.
Ontem (8), o segundo dia de
programação da marcha foi marcado por um ritual em memória de Raissa Guarani
Kaiowá, de 11 anos de idade, morta em agosto, na reserva indígena federal de
Dourados (MS), e Daiane Kaingang, de 14 anos de idade, assassinada no início do
mês passado, próximo à Terra Indígena Guarita, em Redentora (RS).
Segundo Nyg Kaingang, liderança
indígena da Anmiga, o ato serviu para discutir não só a violência contra os
povos indígenas como um todo, mas também a violência de gênero que acomete
mulheres indígenas.
“Falar sobre violência, e sobre a
violência de gênero nas comunidades e aldeias e entre povos indígenas é um
processo doloroso, que ainda pode ser considerado um tabu dentro das
comunidades. Apesar de a gente viver todos os dias isso dentro do território,
seja pelo machismo imposto, seja pelo projetos que insistem adentrar em nossos
territórios com seus projetos desenvolvimentistas”, disse Nyg.
Segundo a mais recente edição do Atlas da Violência, divulgada no fim de
agosto, a taxa de assassinatos entre indígenas cresceu 21,6% entre os anos de
2009 e 2019, saltando de 15 mortos por 100 mil habitantes para 18,3 por 100 mil
habitantes.
De acordo com o Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, responsável pela publicação, elaborada em parceria com o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e com o Instituto Jones dos
Santos Neves, o aumento da taxa vai na contramão do resultado verificado entre
a população em geral, que, no mesmo período, caiu de 27,2 homicídios por 100
mil habitantes para 21,7 por 100 mil habitantes.
Além de apoio financeiro para custear a permanência das
participantes na cidade, a organização da marcha pede a quem puder comparecer
ao local que doe alimentos, água, fraldas para as crianças e outros itens que
possam ser distribuídos aos participantes da marcha.
Edição: Fernando Fraga