
Por Cláudia Felczak - Repórter da Agência Brasil - Brasília (Foto: )
São cerca de oito horas de viagem
para chegar à comunidade indígena Guató, localizada no Pantanal
sul-mato-grossense. Mas não são oito horas de carro não, são oito horas de
barco. E de barco rápido, conta o cacique Osvaldo Correia da Costa: “Para
comprar mantimentos, precisamos de um barco maior. Aí são três dias navegando
pelo rio.”
O acesso complicado dificulta a
chegada de serviços e a comunicação com outras comunidades. A secretaria
especial de Saúde Indígena (Sesai) é a responsável pelo atendimento dos
indígenas e diz que o contato com o mundo externo antes era feito apenas por
meio de um telefone, que ficava na base do Exército na aldeia. Com a chegada da
internet, no entanto, a comunicação ficou mais fácil. A Sesai conta hoje com o
auxílio do programa Wi-Fi Brasil e consegue entrar em contato com a aldeia
até por aplicativo de mensagens.
A chegada da internet pelo Wi-Fi
Brasil também impactou a vida na aldeia Porto Lindo, localizada no município de
Japorã, em Mato Grosso do Sul. Segundo o líder guarani-kaiowá, cacique
Roberto Carlos Martins, os 5,5 mil indígenas passaram a ter melhores
oportunidades de trabalho, estudo e pesquisa, além dos aspectos de comunicação.
“Rapidamente a gente consegue se comunicar não só com a comunidade mas a
comunidade também com o poder público, poder privado. Então a gente tem essa
facilidade hoje”.
O cacique, no entanto, alerta que a
internet também traz aspectos negativos à aldeia, assim como ocorre em grandes
centros urbanos: o tempo excessivo que o indivíduo fica conectado. “Em vez de
estar conversando e brincando estão ligados na internet”, comenta.
Pelo Brasil afora
Hoje o programa conta com mais de
13,3 mil pontos de internet em funcionamento, instalados em escolas, unidades
de saúde, de segurança e de prestação de serviços públicos em áreas remotas, de
fronteira ou de interesse estratégico, além de aldeias indígenas e comunidades
quilombolas - todos lugares de difícil acesso.
“Aonde ninguém chega, a gente chega
com sinal de internet de qualidade”, diz o secretário de Telecomunicações do
Ministério das Comunicações, José Afonso Cosmo Júnior. O número de pessoas
atendidas ultrapassa os 8,5 milhões, segundo o governo.
Arte/Agência Brasil
Pessoas como a dona de casa Maria
Aparecida Pereira, moradora do povoado Conceição do Jacinto, que fica no
interior de Minas Gerais. “Com a internet eu consigo escutar o choro e a voz do
meu neto, acompanhar o engatinhar, os primeiros passos. Vou assistindo ao
crescimento dele por videochamada. Se não fosse a internet, não conseguiria.”
E não é só para conversar com a
família que a internet serve. Cosmo Júnior conta o exemplo de uma comunidade
que, assim que obteve o sinal de internet, foi logo questionar o prefeito sobre
uma bomba d’água que teria sido retirada sem qualquer explicação. “No fim das
contas, a exclusão digital é também social”, diz.
Arte/Agência Brasil
Tecnologia via satélite
O secretário de Telecomunicações
lembra que o programa só foi possível depois do lançamento do Satélite
Geoestacionário de Defesa e Comunicações (SGDC): “Não tínhamos, antes, um
satélite que cobrisse todo o Brasil com essa capacidade de dados que o SGDC
tem.”
Lançado em 2017, o SGDC está em
órbita a 36 mil quilômetros da Terra e possibilitou o estabelecimento de uma
política pública de atendimento às regiões mais remotas já que cobre, com o
mesmo sinal, o país inteiro.
O programa tem duas modalidades. Na
primeira, a internet é instalada em pontos fixos como escolas e unidades de
saúde. Na segunda, ela é levada a praças públicas onde podem ser usadas por
qualquer pessoa. Atualmente são 21 praças que contam com o sinal do Wi-Fi
Brasil, mas outros 2 mil pontos já estão com contratação em andamento,
segundo o Ministério das Comunicações.
Primeiro satélite geoestacionário
brasileiro para defesa e comunicações estratégicas foi lançado em 2017 Marcello
Casal jr/Agência Brasil
Previsão
A expectativa, segundo o secretário
de Telecomunicações, é que 500 novos pontos sejam instalados até a primeira
quinzena de maio, e mais 4 mil até o fim de 2021. De acordo com Cosmo
Júnior, boa parte dos recursos para o programa está vindo de emendas
parlamentares.
De 2020 para 2021 o valor das emendas
destinadas ao Wi-Fi Brasil passou de cerca de R$ 17 milhões para mais de R$ 100
milhões. “O que mostra que os parlamentares reconhecem o programa como a forma
mais rápida de levar internet a essas comunidades”. E completa: “A ideia é
acabar com o deserto digital do país. A integração de todas as políticas
públicas do ministério tem um objetivo só: conectar todas as pessoas.”
Semana Nacional das Comunicações
De segunda-feira (3) a domingo
(9), os veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
publicam o Especial Conecta, com conteúdos sobre a Semana Nacional
das Comunicações. O especial reúne reportagens sobre história das telecomunicações,
5G, Internet das Coisas, o impacto das novas tecnologias na educação e no
agronegócio, entre outros temas.
>> Confira todo o conteúdo
no hotsite.
Edição: Denise Griesinger