Produtor rural recebe da mão do Governador Helder Barbalho e de seu filho, certificado de conformidade ao Sirflor (Foto: )
Foi lançada, com repercussão
nacional, paralelamente à 36ª Exposição Agropecuária de Marabá (Expoama 2024),
o Sirflor, uma plataforma que
contém as regras do Programa de Requalificação Comercial do Estado do Pará,
entregando declarações que permitirão o retorno de produtores rurais que, de
alguma forma, foram enquadrados em infrações ambientais e proibidos de fornecer
seu produto aos frigoríficos. “O programa é a porta de entrada para esses
produtores voltarem ao mercado da carne formal”, explicou o governador Helder
Barbalho.
A plateia atenta as explicação
de adesão à ferramenta Sirflor
A solenidade de lançamento do
Sirflor ocorreu no Carajás – Centro de Convenções Leonildo Borges Rocha, em
Marabá (PA). O evento contou com a presença do Governador Helder Barbalho,
representantes dos produtores rurais, técnicos, representantes de ONG’s, frigoríficos,
varejo, curtumes e outros atores relevantes das cadeias do agronegócio do
Estado. No total, foram 21,6 mil hectares de terras requalificados.
“O Pará dá este passo no sentido
de mostrar que, aqueles que em algum momento tiveram qualquer tipo de registro
de infração ambiental, mas queiram voltar a sua atividade recuperando as suas
áreas, a porta está aberta para que possam retomar as suas atividades com boas
práticas ambientais, conciliando produção com o meio ambiente”, disse o
governador, resumindo o espírito do programa.
A Niceplanet, empresa que
desenvolveu a plataforma Sirflor, publicou em sua conta na rede social
Instagram: “Para nós, é uma honra e satisfação contribuir com a agropecuária
brasileira, através da entrega de produtos exclusivos aplicados ao compliance socioambiental
do agronegócio, melhorias no ambiente de comercialização de matéria-prima e
produtos, e, principalmente, à preservação do meio ambiente”.
O Sirflor é a ferramenta
operacional do Programa que reorienta o processo de desbloqueio de produtores
que se encontram com impedimento ambiental, o que restringia a comercialização
da carne para frigoríficos. A iniciativa faz parte da Política de Integridade e
Desenvolvimento da Cadeia da Pecuária, lançada pelo Poder Executivo do Pará
durante a COP 28, em Dubai, que tem em vista promover a melhoria da
produtividade, gerando a agregação e o fortalecimento da cadeia produtiva de
proteína animal, que detém o segundo maior rebanho comercial do Brasil e da
América Latina.
A novidade foi coordenada pela
Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas) e
integra ações coordenadas com a Agência de Defesa Agropecuária do Pará
(Adepará).
“Hoje o mercado é globalizado e,
se não estivermos alinhados às práticas internacionais, com responsabilidade e
integridade, não conseguiremos estar habilitados. Quando enviam carne daqui
para o mercado externo, o nível de exigência é alto. Consumimos 10% do que é
produzido, então 90% vão para outra praça ou para o mercado internacional.
Quero aqui celebrar o fato de termos chegado até aqui, porque hoje damos um
passo decisivo para mostrar que estamos construindo um estado competitivo com
práticas sustentáveis. Mostrando que a rastreabilidade é necessária para
garantir a integridade e a agregação de valor, para podermos habilitar novas
plantas industriais com mais rentabilidade. Estamos aqui mostrando que existem
portas de saída para o produtor ter acesso à requalificação e reativação do CAR
(Cadastro Ambiental Rural), gerando uma nova fonte de recursos naquela área. É
uma porta de saída. É produção sustentável. É nisso que acreditamos. Este
estado pode e deve conciliar suas vocações”, disse o chefe do Executivo
paraense, Helder Barbalho.
“Nós não propomos ser floresta
sem produzir e também não acreditamos em produzir sem ter floresta. Temos que
ter os dois. Aumentamos a produção em 1,5 milhão de cabeças de gado e reduzimos
o desmatamento em 42%, o que significa que estamos no caminho certo e aqui
damos um passo decisivo, mostrando que a agenda ambiental não é adversária da
agenda produtiva”, enfatizou o governador.
Avanço aplaudido pelos
produtores de todo o país
O programa do Pará foi aplaudido
em centenas de grupos de mensagens de produtores rurais Brasil afora.
Inicialmente o que era um problema quase insolúvel, se transformou em uma
oportunidade de readequação dos produtores às exigências de produção impostos
por protocolos rígidos dos compradores internacionais e da conformidade exigida
pela própria legislação brasileira. É o fim do “boi pirata?” A iniciativa
aponta para isso e deve ser copiada pelos demais Estados, comentaram vários
pecuaristas nas redes sociais.
É que disse de corpo presente
João Álvaro Pereira de Alencar, produtor rural de São Félix do Xingu, que
recebeu a Declaração de Requalificação Comercial. “A novidade é uma conquista e
representa a liberdade de escoar a produção”, comemorou. “Produzimos bezerros e
vacas. Vim aqui hoje receber uma declaração e estou muito contente, muito feliz
porque isso está tirando a gente do anonimato. Esse documento representa uma
conquista e uma liberdade de poder escoar a nossa mercadoria. Quando eu soube
que ia receber, primeiro eu não acreditei. Agora estou assinando os termos de
responsabilidade e já está tudo cercadinho lá [na fazenda], para regenerar a
vegetação, como será daqui para frente. Vamos zelar pelas árvores que vão
nascer ali, e eu plantarei também, muitas. Sem o apoio do governo, a gente não
chega lá e graças a Deus fomos contemplados”, agradeceu.
João Álvaro Pereira de
Alencar, produtor rural de São Félix do Xingu
A possibilidade de recolocar os
produtores infratores de volta a legalidade foi inicialmente prevista em um TAC
(Terno de Ajustamento de Conduta) celebrado entre o Ministério Público Federal
(MPF) e a Associação dos Criadores do Estado do Pará (Acripará). Para Mauro
Lúcio Costa, vice-presidente da associação e proprietário da Fazenda Marupiara,
em Paragominas, há 26 anos, o programa é um avanço para o produtor rural.
“A requalificação comercial é a
maneira mais ágil, prática, fácil e eficiente do produtor conseguir desbloquear
o imóvel ou a propriedade dele para a comercialização imediata. Com isso, ele
consegue voltar ao mercado legal, vender os animais dele ou vender a produção
dele com mais tranquilidade, podendo assim dar sequência ao processo de
regularização ambiental da propriedade. Então, dessa maneira, essa
requalificação veio para agilizar o processo de desbloqueio dos produtores para
o mercado formal. Isso adiantará muito a vida do produtor”, afirma o
pecuarista.
Histórico
Em 2009, o Ministério Público
Federal implementou um protocolo de monitoramento para os produtores de gado no
Estado, com isso, frigoríficos não podem comprar gado bovino de fazendas com
desmatamento ilegal, o denominado de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) da
Carne. Desde então, produtores estavam impedidos de comercializar a carne
produzida por não atenderem às diretrizes do protocolo federal.
Neste contexto, a Requalificação
Comercial traz de volta ao mercado da carne o produtor, desde haja recuperação
da vegetação desmatada e seu compromisso com a regularizar ambiental.
Requisitos
Os produtores que desejem
retornar ao mercado devem, além de possuir o Cadastro Ambiental Rural,
comprovar o isolamento da área desmatada após 22 de julho de 2008, permitindo o
início do processo de regeneração da floresta. No Programa de Requalificação, o
processo é 100% digital, permitindo que o produtor acompanhe o andamento da sua
solicitação.
Raul Protázio Romão, secretário
adjunto da Semas, afirmou que o programa garante o futuro da pecuária. “Ser
pioneiro é desafiador, mas não poderíamos ter escolhido outro caminho. O
governador Helder Barbalho sempre disse que não poderia deixar ninguém para
trás e que a requalificação era necessária. Ter a liderança política por trás é
fundamental para podermos avançar”, disse.
“Não queremos que, daqui a alguns
anos, os mercados recusem nossos produtos devido à falta de comprovação sobre
desmatamento. O que estamos fazendo é garantir o futuro. Quando o Pará tiver as
gôndolas dos supermercados com carne livre de desmatamento, vocês vão lembrar
deste dia em que compramos a passagem e embarcamos no trem para o futuro”,
disse o secretário.
Como funciona
Após receber a sua Declaração de
Legalidade Comercial, o produtor deverá seguir com o CAR no processo de
validação, aderindo ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), se
necessário, e apresentando plano de execução do PRADA (Programa de Recuperação
de Áreas Degradadas), assim como assinar Termo de Compromisso Ambiental.
Após esse procedimento, o técnico
responsável fará nova vistoria na área. Caso a área esteja em recuperação e
esteja sendo realizado o processo junto ao PRA, o produtor recebe uma nova
certidão com validade de mais um ano.
Divulgação: Site do Sirflor
Após a comprovação do isolamento
da área desmatada, o produtor será considerado apto à comercialização da carne.
Porém, caso seja detectada a interrupção do processo de regeneração, novo
desmatamento ou a não adesão ao PRA, a Certidão de Adequação Ambiental será
cancelada e o produtor não poderá mais utilizar os sistemas.
Desafios
Enquanto isso, a pecuária segue
com seus outros desafios. A expectativa dos produtores da região é de outras
plataformas com o mesmo objetivo venham a ser criadas, a exemplo desta que está
sendo ancorada pelo governo do Estado e com total apoio da Acripará.
O Pará tem o segundo maior
rebanho do País, com 25 milhões de cabeças. É o maior exportador de gado vivo e
tem papel fundamental no fornecimento de bezerros para outros estados, além de
contar com 34 frigoríficos.
Desde 2009, em função de um TAC
(Termo de Ajustamento de Conduta) firmado entre produtores, frigoríficos e o
Ministério Público Federal, algumas propriedades foram identificadas como não
alinhadas a regras que proibiam, por exemplo, o desmatamento após 2008.
“Agora, estes produtores
conseguem se comprometer em “separar” a área irregular, trabalhar pela
recuperação da vegetação nestes locais e, enquanto isso, já ficarem aptas a
voltar a vender animais. Trata-se de um plano para requalificação comercial dos
produtores, um exemplo a ser seguido pelos estados e diferentes elos da cadeia.
É de interesse de todos nós que o Brasil seja cada vez mais referência não
apenas em competitividade da pecuária, mas também em sustentabilidade”, disse a
produtora rural Teresa Cristina (Teka) Vendramini, em recente artigo publicado
em um site especializado.
“Como pecuarista que sou, devo
confessar a vocês que já há algumas semanas venho muito preocupada. No interior
de São Paulo a seca chegou a ‘amarelar’ o pasto, cenário que permanece até
hoje, praticamente sem chuva, e aquele produtor que não estava preparado, com
suplementação alimentar para o gado, viu seus ganhos sumirem aos poucos”,
contou Teka.
Ao mesmo tempo, enquanto a
cotação do boi gordo (Cepea/B3) chegou perto dos R$ 245 por arroba em janeiro,
“nós vimos em junho o preço cair para R$ 220 por arroba. As exportações de
carne bovina vinham crescendo ao longo dos meses, mas infelizmente o preço pago
ao pecuarista não acompanhava”, afirmou a pecuarista.
“As últimas semanas, porém,
mostram que ventos melhores começam a soprar. A arroba já passou um pouco dos
R$ 230 em São Paulo e há quem diga que negócios pontuais saíram a R$ 240 (na
minha fazenda não foi, infelizmente). Acredito que o recorde atingido nas
exportações de carne bovina em julho seja um dos fatores positivos nesta conta.
O Brasil embarcou mais de 290 mil toneladas, um aumento de 42%m conforme
cálculos da Abrafrigo. Segundo dados do Ministério da Indústria e Comércio
Exterior (Mdic), o faturamento atingiu US$ 1,14 bilhão, avançando 34%”,
analisou.
“Estamos agora atentos à entrada
no mercado de um volume significativo de bois terminados nos confinamentos, o
que pode pressionar os preços, com maior oferta. Mas contamos também com a leve
melhora no consumo interno de carne para equilibrar o mercado”, destacou Teresa
Cristina.
“Enquanto isso, a pecuária segue
com seus outros desafios, como a busca da regularização ambiental para alguns
produtores. Quero compartilhar aqui uma boa notícia neste aspecto. O governo do
estado do Pará fez um lançamento durante a exposição agropecuária de Marabá.
Trata-se do Sirflor, Sistema de Restauração Florestal, plataforma que está
sendo liderada pela ACRIPARÁ, Associação dos Criadores do estado do Pará,
permitindo que pecuaristas que estavam impedidos de fornecer gado aos
frigoríficos possam aos poucos retomar a comercialização”, comentou.
Segundo a produtora, “a
expectativa dos produtores da região é de outras plataformas com o mesmo
objetivo venham a ser criadas, a exemplo desta que está sendo ancorada na
entidade”.
* Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do
Zé Dudu em Brasília.